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sábado, 31 de dezembro de 2011


PRÊMIO DE MELHOR FUNCIONÁRIO DO ANO.

Autor: Roberto Fernandes
Estavam reunidos representantes de profissionais de todo o mundo para que fosse entregue o prêmio de melhor funcionário do ano.
Havia naquele lugar um representante de cada ofício. Do chefe da ONU ao zelador. Do ocupante do cargo mais alto ao mais humilde servo.
O político, com ar de superioridade logo bradou: -Essa vai ser fácil, ajudei muitas pessoas este ano, meu país sediará uma copa do mundo, consegui verba para os necessitados.
O Papa logo o repreendeu dizendo: -Como pode? sou o pontífice! Estive todo esse tempo lutando pela preservação da ordem moral na igreja! Serei o escolhido!
Estava todo mundo, então, a discutir sobre o mérito de sua profissão. Formou-se uma verdadeira discórdia em torno dos seletos profissionais.
Todos queriam o prêmio, afinal, era o reconhecimento por um duro ano de trabalho.
E quando a confusão parecia que ia se generalizar, eis que o apresentador aparece com um bilhete na mão, aquele que iria anunciar o nome do grande vencedor.
Quando o envelope foi aberto, a voz rouca do anunciante misturou-se àquela barulheira de decepção e murmuros;
-O prêmio de trabalhador do ano vai para: -O policial!
Depressa o próprio apresentador reclamou: -Ora, mas isto é uma ofensa! Todos sabem que estive nos mais luxuosos lugares, anunciando os mais renomados vencedores este ano, portanto, deveria ser eu o agraciado!
O empresário retrucou:-Esta pessoa? Logo ela? Foi ele quem prendeu meu filho sob a pretensa acusação que ele fora flagrado com uma grande quantidade de drogas e o taxou de traficante!
-Isso mesmo, ele não merece! Gritou o político mais alto ainda.
-Este rapaz não é merecedor de tal honraria, pois vive reclamando melhores salários, manchando minha imagem e, segundo ouço por aí, vive espancando as pessoas. -Que seja imediatamente desfeito esse erro.
E novamente instaurou-se a anarquia. Todos tinham algo a dizer sobre o policial, que ouvia tudo calado e triste.
Mal arrumado, pois teve pressa em se vestir porque trabalharia naquela mesma noite enquanto todos estariam se divertindo, pois era noite de Réveillon. Desanimado, por não ter seu trabalho reconhecido pelas pessoas. E acima de tudo magoado, pois não esperava tanta ingratidão, apesar de saber que não era tão popular.
E quando tudo dava a entender que aquela humilhação com o Policial seria possível, eis que surgem seus filhos, esposa e colegas de profissão.
-Eu não disse que seria você? disse a esposa.
-Mas mulher...
-Você é que é teimoso, não reconhece seu valor!
-Não disse que vir valeria a pena, mesmo você vindo cansado? E você relutante!
O filho, timidamente disse:
-Papai, todos aqui o reprovam, mas porquê?
-Todos os dias vejo-lhe preocupado pelo dia de amanhã, finjo não perceber pra não brigar comigo.
-Seu sacrifício não é o bastante para estas pessoas? não entendo!
-Tenho tanta pena quando perguntamos se vai voltar amanhã do trabalho e nos responde com um triste silêncio...
Segurando a emoção dentro dos olhos, aquele velho combatente começou a falar:
-Não sabem o quanto é importante esta comenda para mim. Todos os dias, mesmo sem saberem, choro lágrimas que partem meu coração.
-Foram quase três meses sem poder trabalhar, Sr. Empresário. Depois que prendi seu filho ele passou a me perseguir e mandou me executar. Três meses sem fazer o que mais gosto porque fiz o meu trabalho com dignidade e não me rebaixei às consequências.
-E o Senhor, Excelência, em quantas reuniões lhe escoltei? Aliás, pra que o Sr. se locomova, até para este simples gesto, sou eu quem está por trás, zelando pela sua vida contra seus adversários políticos ou não.
Ele fez uma pequena pausa...e continuou:
-Aos senhores presentes, perdoe-me a ousadia em falar assim. Sei que não me é permitido me expressar desta forma, pois a Disciplina com a qual foi treinado não me concede o direito de poder falar o que penso, por isso peço perdão.
-Perdoem-me por ser tão duro. É que a rotina da minha profissão assim me tornou. Acabei  assimilando mesmo sem querer uma dureza que não tinha antes de ser policial. Por ver tantas coisas ruins e não poder me impressionar acabo transparecendo essa imagem, que também significa autodefesa contra os que me perseguem.
-Tento mudar, mas vivemos num mundo onde só há desrespeito e violência contra os aparentemente fracos.
-Sofro por dentro quando minha esposa me pergunta se voltarei no outro dia. Uma pergunta tão simples, uma resposta tão complexa.
-Não estou arrependido por doar meus natais, anos novos , carnavais, feriados e fins de semana, enfim, o convívio com a família que tanto amo, pois tudo o que fiz foi por vê-los todos em paz e em segurança.
-Não estou arrependido por ter de enterrar meus colegas de trabalho depois de mais um confronto que poderia ser evitado se as demais instituições funcionassem e se preocupassem, tal como eu, com o futuro da Sociedade, mas é consolador saber que aquele policial morto se foi com o sentimento do dever cumprido. Da mesma forma seria eu!
-Sou feliz apesar de tudo, pois tenho minha família e amigos para me consolarem nos momentos em que esses pensamentos mais me aflingem.
-Perdoem-me, sinceramente, por não ser um intelecto, que possa dirigir-lhes as palavras certas nesse momento e agradecer ao que me é dado nesta noite. Não tenho apoio pra estudar e quando tento o fazer, logo me desmotivo porque soldado inteligente é doido da cabeça dentro dos quartéis.
-Perdoem-me, mas eu não aceitarei este prêmio.
Todos ficaram atônitos, não entendiam o porque da recusa.
-Não aceito porque estou acostumado ao anonimato. Não é meu dever estar entre os mais falados. Já me acostumei a ver os outros, aliás, uma única pessoa ter um reconhecimento que deveria ser do meu grupo.
Quando necessitamos, somos esquecidos por vocês, mas na hora da cobrança, somo os primeiros a ser lembrados.
Mas, graças a Deus, temos nossos entes queridos, nossos troféus mais valiosos.
-Não aceitarei o título, pois tenho uma grande família que, desde o começo acreditou em mim. Com ou sem reconhecimento.
Sei que sou um herói todos os dias para vocês, mas principalmente e o que mais me orgulha; sou um herói para minha família.
-Para eles sou o melhor funcionário todos os anos e é isso que importa!
Ele deixou o troféu solitário à mesa e saiu feliz com sua família e os companheiros policiais que aplaudiam o funcionário do ano, emocionados.
 

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